terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

A Fraternidade Maçônica


Fraternidade é um conceito filosófico intrinsecamente ligado a Liberdade e Igualdade, com os quais forma o tripé que caracterizou grande parte do pensamento revolucionário francês. Dos três foi o único que não esteve presente no lema Iluminista, que era “Liberdade, Igualdade, Progresso”.

No dicionário as seguintes definições de Fraternidade são citadas: “Parentesco de irmãos ou irmãs, união fraternal, amor ao próximo, boa inteligência entre os homens, harmonia”.
Para definir o que é fraternidade de modo plenamente compreensível, torna-se necessário entender um pouco o termo “O Homem é um animal político”. Este termo se origina das Pólis, as poleis definem um modo de vida urbano que seria a base da civilização ocidental, mostraram-se um elemento fundamental na constituição da cultura grega, a ponto de se dizer que o homem é um "animal político".
A Ideia de fraternidade estabelece que o homem, como animal político, fez uma escolha consciente pela vida em sociedade, por sermos seres frágeis, porém dotados de inteligência, por não termos garras, presas fortes, força como os animais que sempre nos rodearam, para a própria perpetuação da espécie necessário era que vivêssemos unidos e prezássemos uns pelos outros, caso contrário teríamos há muito sido extintos, assim como animais políticos que somos escolhemos conscientemente pela vida em sociedade e para tal estabeleceu para com seus semelhantes uma relação de igualdade, visto que em essência não há nada que hierarquicamente nos diferencie, ou seja, somos como irmãos (fraternos). Este conceito é a peça chave para o pleno exercício da cidadania entre homens, pois o principio gerador a todos os homens é o mesmo Deus. De certa forma a Fraternidade não é independente da liberdade e da igualdade, pois uma depende da outra para existir.
O termo Fraternidade está expresso no 1º primeiro artigo da “Declaração Universal dos Direitos do Homem” ao qual transcrevo a seguir: “Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotadas de razão e consciência e devem agir em relação umas às outras com espírito de fraternidade”.
A palavra corriqueiramente é confundida com as expressões caridade e solidariedade, embora tenham significados radicalmente diferentes. A fraternidade expressa à dignidade de todos os homens, considerados iguais perante o Deus e a todos lhes assegura plenos direitos (sociais políticos e individuais).
É historicamente comprovada a participação de diversos Maçons na Revolução Francesa e nesta temos aos montes em diversos momentos a aparição do conceito Fraternidade, porém a ideia de afeto, união, carinho ou parentesco entre Irmãos estava presente na palavra correspondente no grego comum do primeiro século, adelfótes. Segundo o apóstolo Pedro era o tipo de união que identificava os verdadeiros cristãos – Pedro 2:17, podemos ver com estes que este conceito surgiu há muitos séculos atrás, embora só tenha dado o devido desenvolvimento das práticas e entendimento do mesmo com a Augusta Respeitável e Benemérita Ordem Maçônica.
Martin Heidegger (nascido na cidade de Meβkirch em 26 de Setembro de 1889, falecido em Friburgo, 26 de Maio de 1976) foi um filósofo alemão, foi um dos pensadores fundamentais do século XX - ao lado de Bertrand Russell, Wittgenstein, Adorno e Michel Foucault - quer pela recolocação do problema do ser e pela refundação da Ontologia (do grego ontos "ente" e logoi, "ciência do ser", que é a parte da metafísica que trata da natureza, realidade e existência dos entes, a ontologia trata do ser enquanto ser, isto é, do ser concebido como tendo uma natureza comum que é inerente a todos e a cada um dos seres) quer pela importância que atribui ao conhecimento da tradição filosófica e cultural. Influenciou muitos outros filósofos, dentre os quais Jean-Paul Sartre.
Acompanhando o pensamento deste filósofo alemão supracitado (Heidegger), temos a questão do ser, junto do universo, junto da questão da existência. “A existência humana não é um simples fato, ela articula no próprio ato” da sua manifestação, a questão do ser, existir, é habitar estaticamente na verdade o “Ser”. Pensar é descobrir refletivamente o caminho do “Ser”, o que não significa, originalmente, compreender algo, mas compreender que se está situado, a encontro deste pensamento temos a ilustre frase do matemático e filósofo francês Descartes “Penso logo existo” (“Cogito, ergo sum” que tem o mesmo significado, ou ainda “Dubito, ergo cogito, ergo sum” que significa: “Duvido, logo penso, logo existo").
Não como falar deste importante termo “Ser” sem falar de Descartes, ou ainda de Soren Kierkegaard, nascido em Copenhague em 5 de maio de 1813, falecido também em Copenhague no dia 11 de novembro de 1855, foi um filósofo e teólogo dinamarquês. Kierkegaard criticava fortemente o hegelianismo (corrente filosófica desenvolvida por Hegel que pretendia reduzir a realidade a uma unidade sintética dentro de um sistema denominado idealismos transcendental) do seu tempo quer o que ele via como as formalidades vazias da Igreja da Dinamarca.
Soren Kierkegaard e Martin Heidegger foram um dos maiores influenciadores do “Existencialismo”, este termo foi aplicado a uma escola de filósofos dos séculos XIX e XX, que apesar de possuir grandes e profundas diferenças das demais em termos de doutrinas, partilhavam da crença que o pensamento filosófico, começa com o Ser Humano, não simplesmente com o sujeito pensante, mas em suas ações, nas vivências e sentimentos de um ser humano individual. No Existencialismo o ponto de partida é a “atitude existencial”, ou seja, a sensação de desorientação e confusão em face de um mundo aparentemente sem sentido e absurdo, muitos dos existencialistas viam as filosofias acadêmicas e sistêmicas, como sendo muito abstratas e longínquas das experiências humanas concretas. Este pensamento como podem ver contraria a dedução de Descartes, mas ao meu parco modo de ver uma não existiria sem que antes tivesse existido um gerador do raciocínio.
Fazendo uso da Metafísica, da Ontologia do Existencialismo e da famosa frase de Descartes, pensando para perpetuar a nossa própria existência e também procurando dar a esta palavra uma maior valia, podemos deduzir (diferente de assumir como única verdade) que o sentido da palavra “Ser” é algo equivalente ao modo humano de ser interrogativo, superando a realidade que a determina a aplicação em relação à compreensão.
Definindo a palavra “Ser”, podemos fazer uma alusão também à palavra “Estar”, pois esta encerra em si o sentido de achar-se, encontrar-se em dado momento, ter certo vestuário, ornamento ou acessório, achar-se em certa colocação, posição, ou postura, pode referir-se também a estado de saúde, residência, momento e outros diversos.
Em pesquisa me deparei que este assunto é diretamente complementar a outra prancha já escrita (Diferença entre Ser e Estar Maçom).
Constatamos por este que o termo “Estar” em sintaxe de regência, onde exposto as relações de interdependência entre a palavra e as frases, podemos perceber que este além de mais fácil é menos filosófico por constituição, representa algo passageiro que se está vivenciando, que estamos passando, mas que muda de acordo com acontecimentos externos pela nossa própria vontade, também por ações ou mesmo por falta delas.
Assim o entendimento de raiz, intrínseca desta palavra nada mais é que algo que se vivencia e que pode ou não passar a fazer parte do “Ser”.
Como disse anteriormente a diferença entre “Ser Maçom” e “Estar Maçom”, consiste muito mais que a prática dos atos, que o exercício da simbologia, da escrita e do estudo que esta Augusta Ordem nos proporciona. Um “Ser Maçom” além de atos, tem dentro de si a vivência das realizações, uma força que nos move ao verdadeiro sentido Maçônico, como abordado em outrora, ao sermos iniciado estamos Maçons, mas após esta aqueles que amarem a importante representatividade de tudo o que se encerra ao fato de sermos participes, assim promovemos a busca incessantemente o conhecimento, duvidamos, questionamos, formamos opiniões, colocamo-las em pauta, aprendemos a escutar uma possível crítica sem esmorecer em nossos intentos, mudamos-nos há todos os dias incessantemente sempre para melhor sempre coordenados e instruídos por nossos irmãos com mais idade, porém nunca deixamos de aprender também com os novos iniciados.
O Maçom é muito mais que alguém que frequenta ou não as reuniões, “Ser Maçom” é muito mais que isso, somos mais que carregadores de paramentos, anéis, luvas e símbolos, somos filhos da viúva, descendentes da luz, eternos aprendizes, temos e mantemos vivo em nossas mentes que esta condição, este estado é permanente e constitui nosso próprio ser.
Elevados a cada dia mais pelos ensinamentos Divinos melhoramos de forma incessante nosso estado profano, este que constitui o inicio de nossos conhecimentos, sem nos desfazer de nossos primeiros conhecimentos, pois desfazer do primeiro, é assumir que nunca caímos assim não poderíamos reconhecer o perigo, sem querer enxergar estaríamos em completa ignorância e em estado permanente de cegueira, aquele que nunca viu o ABC nunca irá conseguir montar uma frase por si, no máximo constituirá desenhos, que representariam algo que lhe contaram, acreditando piamente naquilo que se constitui como um dogma e não por falta de vontade, mas sim de capacidade de discutir os fios filosófico-históricos que a formaram. Levamos dentro de nós a seguinte frase ilustre de Sócrates que é: “Só sei que nada sei” e somos incitados a isso no nosso dia-a-dia.
O Maçom que sai do estado profano e atinge francamente o “Ser Maçom”, se afastará do ato de soberba, de orgulho ou arrogância, pois se entendido e absorvido é o conceito, não nos damos à permissão de subjugar a outrem.
Devemos ver, observar o erro, a distração e tudo o mais que causam a doença em nosso amado mundo, conseguindo observar a estes nos afastamos dos erros e não sucumbimos a estes.
Devemos entender que os bons atos abrangem a todos e a tudo, devemos todos ter isso conosco, devemos focar a todos os seres humanos, pois é destes seres “Existencialistas” que se resume ao bem, ou o infortúnio de uma vila, de uma cidade, se um Estado, de uma nação e do mundo.
“Ser Maçom” é amar infindavelmente o próximo, não como a nós mesmos, mas mais do a nós, muitas vezes no próximo mora a miséria, a fome, a ignorância e até mais do que isso, pior do que isso, a falta de amparo e o completo descrédito do bem e do justo é o normal em nosso mundo e quando agimos diferente somos vistos como diferentes, e não o diferente para o lado bom, mas o diferente estranho.
Dentro de nosso mundo de sofrimentos e desilusão, procuramos unidos buscar o mínimo necessário para acreditarmos que o mundo não é ruim, mas que na verdade está cheio de pessoas que tem em si a falta de esperança e recobrar isso com pequenos atos não é uma utopia, mas sim uma grande alegria que carregamos em nossos corações.
Somos fraternais e gostamos disto, buscar incessantemente o melhoramento de nós mesmo, fazer o melhor possível para melhorar o meio em que vivemos, temos convicção de que se Deus nos permitir, faremos juntos de nossos Irmãos a mudança de toda a sociedade que hoje conhecemos, não temendo aos diversos problemas que poderemos enfrentar.

Um grande abraço e que a paz esteja conosco sempre.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

O Misticismo Judaico - Parte III


Dando continuidade ao post esta é a ultima parte, espero que tenha conseguido ser o mais claro possível e que se restou algo que ainda não entenderam que esta seja-lhes esclarecedor.

Sugiro que antes de prosseguirem se ainda não leram os seguintes posts "O Misticismo Judaico - Parte I" e O Misticismo Judaico - Parte II, para que possam entender melhor esse complexo assunto, porém muito interessante.

Vivência - Séc. 18


Fundado pelo rabino e místico judeu Baal Shem Tov, o judaísmo hassídico, ramo ortodoxo que prega a vivência mística da fé judaica, populariza uma forma mais simples de cabala no Leste Europeu. 

Tradução - Séc. 20

O rabino Yehuda Ashlag, fundador do Kabbalah Centre de Israel, completa em 1922 a primeira tradução do Zohar para o hebraico moderno. Em 1984, Philip Berg funda o Kabbalah Centre de Los Angeles. 

Ao acompanhar esta linha do tempo, você vai notar algumas discrepâncias entre o que dizem as tradições judaicas e a opinião dos estudiosos. O caso mais exemplar é o do Zohar: no século 13, Moisés de León distribuiu a primeira versão escrita da obra, alegando que havia encontrado os manuscritos originais, do século 2. Conta-se, porém, que um homem rico ofereceu à viúva de Moisés de León uma alta soma de dinheiro pelos originais. Desolada, ela teria confessado que seu marido era o verdadeiro autor.

Uma verdade, muitos caminhos

Cada misticismo tem seu próprio método para chegar até a Verdade. Mas a essência é a mesma. Veja aqui as semelhanças e diferenças entre 6 correntes místicas 

CABALA

O que é - O misticismo judaico é baseado na crença de que todos os segredos do Universo foram revelados por Deus, de forma codificada, na Torá. Os cabalistas procuram desvendar esses segredos.

Principal texto - Distribuído no século 13 pelo rabino Moisés de León, o Zohar ajuda a explicar os ensinamentos ocultos na Torá.

Principal patriarca - Abraão, embora não haja consenso se o primeiro conhecedor da cabala teria vindo antes (Adão ou Noé) ou depois (Moisés).

Entidade máxima - Ein Sof, o Deus-Infinito, que criou o Universo usando as 22 letras do alfabeto hebraico e as 10 emanações chamadas de sefirot.

 GNOSTICISMO

O que é - Gnose é um tipo especial de conhecimento, uma espécie de saber profundo. Ligado à história do cristianismo, o gnosticismo possui elementos pagãos e outros sincretismos.

Principal texto - Escrito por volta do séc. 2, o Pistis Sophia relata os ensinamentos de um Jesus ressuscitado aos apóstolos.

Principal patriarca - Para os gnósticos, Jesus Cristo é o maior mestre de todos os tempos, mas não é considerado o próprio Deus.

Entidade máxima - O Absoluto. Num conceito próximo ao do Ein Sof, Ele também tem emanações, conhecidas como "Æons".

SUFISMO

O que é - A palavra remete à ideia de pureza. Enquanto o islã crê no encontro com Deus após a morte, o sufismo defende essa possibilidade ainda em vida, por meio de uma experiência mística, chamada irfan.

Principal texto - Escrito no século 11 pelo sábio persa Hujwiri, o Kashf al Mahjub ("Revelando o Velado") discute os principais conceitos sufistas.

Principal patriarca - O profeta Maomé teria transmitido os ensinamentos sufistas àqueles que poderiam experimentar um encontro com Alá.

Entidade máxima - Seguindo a tradição islâmica, Alá é o único Deus, embora tenha uma coleção de nomes, assim como acontece na cabala.

RAJA IOGA

O que é - Originado no hinduísmo, o raja ioga ("ligação", em sânscrito) também está presente no budismo e consiste em disciplinas mentais muito além das práticas mais conhecidas no Ocidente.

Principal texto - Os textos hindus conhecidos como Ioga Sutra explicam os meios de atingir o Samadhi, que seria a união completa com Deus.

Principal patriarca - Não tem. Entretanto, uma figura histórica importante é Patañjali, autor dos Yoga Sutra e de outros textos filosóficos.

Entidade máxima - Brahman é para o Ioga a Realidade Eterna, Infinita, Imutável, Origem e Identidade de tudo o que há no Universo.

ZOROASTRISMO

O que é - Misticismo surgido na antiga Pérsia, baseado nos ensinamentos de Zaratustra. Dizem que os iniciados detinham o conhecimento místico necessário para dominar as forças da natureza.

Principal texto - Chamado Gathas, traz versos que exploram a essência divina da Verdade, da Mente Sadia e do Espírito de Justiça.

Principal patriarca - O profeta Zaratustra (ou Zoroastro) viveu em algum momento entre os séculos 16 e 10 a.C. e teria sido o autor do Gathas.

Entidade máxima - Chamado por Zaratustra de "o Deus não criado", por ser a origem de tudo, Ahura Mazda é onisciente, mas não onipotente.

TAO

Simbolo Taoísta
O que é - Profundamente dualista, o tao prega o caminho do equilíbrio entre os eternos opostos. Viver em harmonia, agindo com sutileza por meio do "não agir" (wu-wei), seria a chave para atingir o Tao.

Principal texto - O Tao Te Ching ("Livro do Caminho e da Virtude") serviu de inspiração não só para o taoismo, mas também para o zen-budismo.

Principal patriarca - Autor do Tao Te Ching, o reverenciado Lao Tsé (o nome significa Velho Mestre) é envolto em mistérios. 

Entidade máxima - Verdadeira natureza do Universo, o Tao o precede e o abarca completamente. Não personificado, confunde-se com o próprio Caminho.

Restando alguma dúvida podem postar abaixo que eu responderei da melhor forma possível em hora oportuna.

Espero que tenham gostado e que a profunda paz a todos invada.

O Misticismo Judaico - Parte II



Esta é a segunda parte e a penúltima sobre o assunto, se ainda não leram o primeiro post "O Misticismo Judaico - Parte I", sugiro que o façam, para que não lhe faltem o entendimento, sobre este extenso assunto, mas muito interessante e esclarecedor.  

Parcerias poderosas

     Durante o Renascimento, a cabala despertou interesse de grupos místicos cristãos, intrigados com a compatibilidade entre as duas tradições. O resultado foi à criação da cabala cristã (ou católica), que levou novos níveis de interpretação aos textos sagrados cristãos. "Considero Jesus um mestre de cabala", diz Mecler. Um sincretismo mais profundo resultou no surgimento da chamada cabala hermética, que reúne ensinamentos de gnosticismo, alquimia, astrologia, religiões egípcia, greco-romana e pagã, tarô, tantra, Maçonaria, hermeticismo, neoplatonismo, hinduísmo e budismo, em uma espécie de síntese de todas as tradições místicas ditas autênticas. Outra variante é a cabala prática, que trabalhava com o uso da magia, incluindo a criação de amuletos e encantamentos, e teve seu apogeu na Idade Média .

     Mas, além dessas tradições cabalísticas distintas, a própria cabala judaica tem diferentes correntes. Uma delas é a já citada “Cabala Pop”. Outra variante tem como expoente o Bnei Baruch Kabbalah Education & Research Institute, fundado em 1991. Autodenominado o maior grupo de cabalistas em Israel, o Bnei Baruch não considera a cabala um misticismo, mas "uma ferramenta científica para o estudo do mundo espiritual". A proposta deles para compreender o Universo é aliar os estudos científicos da física, da química e da biologia às ferramentas cabalísticas. Seu fundador e atual diretor, o filósofo Michael Laitman, é Ph.D. em cabala pela Academia Russa de Ciências e mestre em biocibernética médica.

     Além dessas e, claro, do judaísmo hassídico, existem outras correntes - mais conservadoras, mais literais, mais flexíveis... "Cada escola se liga mais em um ou outro mestre", esclarece Mecler. As diferenças são na ênfase em cada aspecto da sabedoria, mas todas seguem a base comum dos textos sagrados e da tradição oral. "Existem muitos mestres, e cada um pode escolher aquele com o qual se identifica, mas não há diferença na base do ensinamento", diz Lemle. Afinal, como costumam dizer, "a Verdade é uma só". Que tal conhecer um pouco dela?

Deus-infinito


     Assim como a religião judaica, a Cabala afirma que tudo o que existe vem de Deus. Entretanto, o Deus único não é compreendido exatamente da mesma maneira. Se, para a religião tradicional, Deus é o todo-poderoso Criador de todas as coisas, para a cabala Ele não é somente o Criador, mas é também a Criação. Ou seja, a Criação não é dissociada do Criador, mas parte d’Ele. A existência de Deus não seria, portanto, distinta do espaço e do tempo; o espaço e o tempo estariam contidos no próprio Deus-Infinito. Mas não vá pensando que já entendeu, porque isso não é assim tão simples. E nem imagine que essas racionalizações vão proporcionar a você um entendimento profundo de Deus. Por um simples fato: segundo a Cabala, ou mesmo a religião judaica, o Deus-Infinito não pode ser compreendido pela nossa mente física limitada.

     Claro que, apesar disso, os Cabalistas não deixam de estudar esses ensinamentos, porque os consideram fundamentais para prosseguir no caminho da evolução espiritual. Um dos estudos mais importantes é justamente o que diz respeito à natureza da divindade. Para começar, os Cabalistas preferem o termo Deus-Infinito, ou Ein Sof, aquele que veio antes de tudo, que precede a Criação. Veja o que diz o Zohar sobre o Ein Sof: "Antes de dar qualquer formato ao mundo, antes de produzir qualquer forma, Ele estava só, sem forma e sem semelhança com qualquer outra coisa. Quem então pode compreender como Ele era antes da Criação? Por isso é proibido emprestar-Lhe qualquer forma ou similitude, ou mesmo chamá-Lo pelo Seu nome sagrado, ou indicá-Lo por uma simples letra ou um único ponto... Mas, depois que Ele criou a forma do Homem Celestial, Ele a usou como um veículo por onde descer, e Ele deseja ser chamado por Sua forma, que é o nome sagrado ‘YHWH’".

     Pode parecer estranho não poder dar um nome a Deus, tornando-o de certa maneira inacessível para os homens. Afinal, se é assim, como pode existir uma experiência mística que permite esse acesso? Bem, a cabala explica que o contato com Deus é realizado indiretamente, por meio de um de seus desdobramentos. "Para tornar-se ativo e criativo, Deus criou as 10 sefirot ou emanações. As sefirot formam a Árvore da Vida, que representa os aspectos de Deus existentes dentro de nós", explica o rabino Alanati. Ou seja, uma maneira de ter o contato místico com Deus é através de uma das 10 sefirot, as mesmas representadas no famoso diagrama. Alanati explica que as 7 esferas mais baixas estão diretamente relacionadas com os 7 dias da Criação descritos no livro do Gênese.

     Mas como teria se dado exatamente a Criação? A cabala tem um livro dedicado a esse tema: o já citado Sefer Yitizirah. O texto ensina que a primeira emanação do Ein Sof foi ruach (espírito/ar), que em seguida gerou fogo, responsável por formar água. A existência real dessas substâncias potenciais foi comandada por Deus, que as utilizou como matérias-primas de toda a Criação. Por exemplo, a água deu origem à terra, o fogo originou o céu e o ar ocupou o espaço entre eles para formar nosso planeta. Ainda segundo o Sefer, o Cosmos é dividido em 3 partes (cada uma delas contendo uma combinação dos 3 elementos primordiais): o mundo (ou, com alguma abstração, o espaço), o ano (tempo) e o homem.

     A cabala divide o Universo em 4 planos de existência, divididos hierarquicamente a partir da emanação do Ein Sof até nós. Nessa ordem, teríamos então: o Atziluth (Mundo da Emanação ou das Causas), que recebe a luz diretamente do Ein Sof; o Beri’ah (Mundo da Criação), onde não há matéria e onde moram os anjos de mais alta hierarquia; o Yitizirah (Mundo da Formação), onde a Criação assume forma material; e o Assiah (Mundo da Ação), onde se completa a Criação e se localiza todo o Universo físico e suas criaturas. No sistema luriânico, um quinto mundo é mencionado, acima do primeiro, e que serviria de mediação entre o Ein Sof e o Mundo da Emanação.

Planos superiores


     É curioso observar que, na cabala luriânica, desenvolvida no século 16 pelo rabino Isaac Luria, há um conceito que lembra a Teoria do Big Bang. Segundo essa linha cabalística, a primeira ação de Ein Sof para criar o Universo teria sido uma contração sobre si mesmo, que teria provocado uma catástrofe inicial chamada tohu, gerando um vácuo. Em seguida, esse váculo teria sido preenchido com as emanações divinas (de uma maneira explosiva, tendo em vista a grande velocidade dos acontecimentos narrados) e, a seguir, "retificado" nos mundos que você conheceu no parágrafo anterior.

     Enquanto estiver no Mundo da Ação, o homem está sujeito a dirigir o corpo físico que lhe foi concedido, mas seu objetivo deve ser sempre o mesmo: aprender e evoluir para ascender aos planos superiores. "O judaísmo acredita que a alma é eterna e subdividida", diz Alanati. "A vida continua em outras realidades além da nossa, aguardando a ressurreição. A cabala é a única corrente dentro do judaísmo que defende o conceito de reencarnação: algumas almas retornam a este mundo em outro corpo, até acabar de cumprir a sua missão. Ou então elas voltam para nos trazer bênçãos e luz através de seu ser altamente desenvolvido". Segundo ele, seria possível uma alma atingir o estágio de evolução necessário em uma única vida, mas é comum receber mais algumas chances, num processo de reencarnação que também faz parte dos aprendizados evolutivos.

     Segundo a cabala, a alma humana é dividida em 3 partes básicas. A mais "baixa", chamada nefesh, é a parte animal, responsável pelos instintos e reflexos corporais. Acima dessa estaria ruach, o espírito ou alma média, que contém as virtudes morais e a habilidade de distinguir o que é bom e o que é ruim. A alma alta, neshamah, seria a terceira parte, que representa o intelecto e distingue o homem das outras formas de vida, por permitir a vida após a morte. É a neshamah que permite a percepção da existência de Deus.

     Outras duas partes da alma humana são discutidas no Zohar: chayyah, que permite a consciência da força divina, e yehidah, a parte da alma que é alta o suficiente para atingir o maior nível possível de união com o Criador. "A meta é alcançar o propósito para o qual fomos criados: a equivalência de forma com a Força Superior. Todo o trabalho na cabala tem esse objetivo", resume Marcelo. Na hipótese remota de a humanidade finalmente se unir ao Criador, em uma fusão completa e perfeita, o que aconteceria? O fim do mundo? O começo de uma nova e gloriosa Criação? Bom, isso nem mesmo os mestres cabalistas sabem responder...

VOLTA ÀS ORIGENS

     Grupo de jovens israelenses se reúne em uma caverna perto da vila de Beit Meir, em Jerusalém, para estudar a cabala, em maio de 2010. Uma vez por semana, cerca de 12 judeus ortodoxos se encontram nesta caverna perto da cidade sagrada para repetir um ritual antigo: analisar e discutir, por horas a fio, os textos de livros como o Zohar.

FESTA MÍSTICA

     Mais de 2 mil estudantes da cabala se reuniram na Times Square, em Nova York, para celebrar a chegada do Ano-Novo Judeu, Rosh Hashana, em setembro de 2001. O canto, a dança e as vestes brancas são típicos de uma nova geração de cabalistas, que considera a festa, a celebração e a alegria tão importantes quanto a meditação e as longas sessões de estudo dos textos antigos.

LADO A LADO

     Judeus ortodoxos e soldados israelenses rezam juntos na tumba do rabino Isaac Luria, em Safed, Israel. Luria, um dos mais importantes cabalistas de todos os tempos, foi o responsável pela renovação do misticismo no século 16 com a criação da cabala luriânica e a divulgação de seus ensinamentos para além dos círculos judaicos.

BANHO SAGRADO

     Um judeu se banha nas águas geladas da Mikve HaAri, localizada em Safed, Israel. Cabalistas repetem há anos o ritual, prestando homenagem ao rabino Isaac Luria, que teria utilizado as mesmas águas no século 16. Alguns se banham todos os dias, mas o mais comum é realizar o ritual na véspera do Shabat.

SÓ PARA JUDEUS

     O cabalista Yitzhak Kadouri segura um exemplar do Zohar na biblioteca de sua casa em Jerusalém, em 2004. Um dos maiores estudiosos contemporâneos da cabala, Kadouri ganhou notoriedade por sua influência política e por suas declarações polêmicas. Em 2004, durante visita de Madonna a Israel, ele se recusou a falar com a cantora, dizendo que "o estudo de cabala é proibido para as mulheres, e também para os que não são judeus".

A cabala no tempo 

Conheça a evolução da corrente mística judaica, da criação do Universo até os dias de hoje

Criação
Origem - 3700 a.C.
Deus cria Adão. Há quem defenda que ele teria sido o primeiro conhecedor da cabala, obtida diretamente do Criador.

Patriarca - 1800 a.C.
Nasce Abraão, patriarca dos judeus, dos cristãos e dos muçulmanos. Para alguns, ele seria o primeiro conhecedor da cabala.

Êxodo - 1500 a.C.
O profeta Moisés teria recebido a cabala diretamente de Deus no monte Sinai, juntamente com a Torá e os Mandamentos.

Templo - 516 a.C.
É erguido o Segundo Templo em Jerusalém. A chamada Torá Oral é transmitida ao longo dos anos.

Formação
Diáspora - 70 D.C.
Perseguição romana e destruição do Segundo Templo. Segunda diáspora. Cabala é mantida em segredo.

Palácios - Séc. 1
É escrita a coleção de literatura judaica conhecida como Heichalot ("Os Palácios"), que inspirou motivos cabalísticos.

Manuscritos - Séc. 2
É escrito o livro Sefer Yitizirah, a obra mais antiga do chamado esoterismo judaico. Segundo a tradição, é escrito também o Zohar, no idioma aramaico, pelo rabino Shimon bar Yochai.

Título - Séc. 11
O termo cabala passa a ser usado para identificar o misticismo judaico. Não há consenso se o pioneiro nesse uso foi o filósofo judeu Shlomo ibn Gevirol ou o cabalista espanhol Bahya ben Ahser.

Expansão
Redescoberta - Séc. 13

O Zohar é descoberto (ou escrito, segundo alguns estudos) e distribuído pelo escritor judeu-espanhol Moisés de León.

Renovação - Séc. 16
Sábios cabalistas refugiam-se na cidade de Safed, em Israel: entre eles está Isaac Luria, criador da cabala luriânica.


Continua...

O Misticismo Judaico - Parte I

         Este tema que tratarei neste post é muito complexo por este motivo dividirei em 3 partes, espero que seja o mais esclarecedor possível, porém aviso que mesmo tratando o assunto em 3 posts extensos sobre "A Cabala Judaica", trata-se apenas de um pequeno resumo.

Revelando o Misticismo

          Qual a origem do Universo? Por que estamos aqui? De onde vem à vida? O que acontece depois da morte? Imagine se você pudesse fazer todas essas perguntas diretamente para a autoridade máxima no assunto. Isso mesmo: que tal ter uma conversa com Deus e ouvir dele todas as respostas? Agora imagine que as respostas já existem, e foram passadas de geração a geração por um grupo de sábios estudiosos, do início dos tempos até os dias de hoje. Pois essa é a definição da cabala: uma revelação feita por Deus para os homens, capaz de esclarecer todos os mistérios que rondam a humanidade. Conheça aqui a história do misticismo judaico e saiba como a cabala está conquistando o planeta.


Quando Deus criou a Terra disse: “Faça-se a luz” e a luz foi feita. Depois Deus criou o Homem o nomeando como Adão, no início este habitava o paraíso e tinha contato direto e constante com Ele, Deus resolveu passar ao homem toda a sabedoria da cabala. Alguns praticantes afirmam que “Adão conhecia a cabala”, mas esse assunto é controverso entre os próprios cabalistas.

Hipoteticamente teria Adão passado o conhecimento para seus descendentes até Noé, depois até Abraão, Moisés e em seguida aos grandes mestres históricos, estes selecionavam rigorosamente as pessoas que estariam aptas a ser seus discípulos.

Deixando as lendas de lado, não há consenso sobre o momento em que a Cabala tenha sido criada/revelada aos homens, mas todos os cabalistas concordam que o ensinamento sagrado tenha vindo direto do Criador, assim como os 613 mandamentos judaicos contidos no Torá, a bíblia judaica, que os cristão chamam de Pentateuco, “A Cabala é além do tempo, ela não tem nem começo nem fim”, palavras do rabino israelense Joseph Saltoun, ex-professor do Centro de Estudos da Cabala, São Paulo, e que hoje leciona em Vancouver, no Canadá.

Afinal o que é a cabala? Para facilitar o entendimento começarei descrevendo o que ela não é, a Cabala não é religião, autoajuda, superstição, magia, bruxaria, uma sociedade de secreta, meditação, adivinhação, interpretação de sonhos, ioga, hipnose ou espiritismo, embora possa ser relacionado a todas estas coisas. Bom agora ficará mais simples entendermos o que é Cabala.

Esta é um conjunto de ensinamentos sobre Deus, sobre o homem, o Universo, a Criação, o Caminho, a Verdade e coisas afins, é uma revelação de Deus para o homem. Ela nos diz porque o homem existe, porque nasce, porque vive, qual o objetivo de sua vida, de onde vem e para onde vai quando completa sua vida na Terra”, assim diz Marcelo Pinto, representante do centro de cabala Bnei Baruch do Brasil. “O ser humano tem muitas questões e a Cabala é um caminho espiritual que permite trazer de volta o elo verdadeira origem de tudo”, explica Ian Mecler (Editora Mauad), para Shmuel Lemle, professor da Casa da  Cabala no Rio de Janeiro e escritor de livros como “O Poder de Realização da Cabala, também no Rio, “nada acontece por acaso. Existem leis de causa e efeito, assim como existem leis da física, como a lei da gravidade, existem leis espirituais”.

Independente de quando a cabala tenha surgido, o modo como a conhecemos hoje é o resultado da transmissão desses ensinamentos por meio da tradição judaica. A palavra “CABALA” (de origem hebraica, cuja pronúncia mais próxima do original é “Cabalá”) significa receber/recebimento. A Cabala é uma forma de misticismo, pois ensina que é possível ao homem ter contato direto com esferas superiores da realidade, ou mesmo com manifestações do próprio Criador, portanto, de um modo simplificado, a Cabala é o misticismo judaico, ou a corrente mística ligada à tradição do judaísmo, para ser mais exato.

A União com o Criador

A grosso modo, a Cabala está para o judaísmo, como o gnosticismo está para o cristianismo e o sufismo (Movimento de ascese mística do islamismo que se espalhou, sobretudo do século IX ao século XII) está para o islã. Gnosticismo e sufismo são as correntes místicas ligadas respectivamente às tradições cristã e mulçumana. Como misticismos, essas 3 correntes têm muito em comum. A maior parte das diferenças está no modo de transmissão do conhecimento, adaptado à tradição em que aquele tipo de misticismo se desenvolveu. Esse raciocínio não vale apenas para as 3 religiões chamadas abraâmicas (por serem todas herdeiras do patriarca Abraão), mas também para as místicas orientais, como o hinduísmo, Taoismo e Budismo, além do Zoroatrismo na Pérsia, só para citar as mais conhecidas.

Se a Cabala é um tipo de misticismo, talvez seja o caso de explicar o que é o misticismo... Em poucas palavras é a crença na possibilidade de percepção, identidade, comunhão ou união com uma realidade superior, representa como divindades, verdades espirituais ou o próprio Deus único, por meio de forte intuição ou de experiência direta em vida. Na intenção de atingir esse tipo de experiência, as tradições místicas fornecem ensinamentos e práticas específicos, como meditação e aperfeiçoamento pessoal consciente. Nosso foco nesta reportagem, a cabala, não é exceção.

Para entender melhor, vamos dar uma espiada no passado...

Tradição oral

Indiferentemente de qual seja o primeiro e privilegiado homem a ter recebido o conhecimento esotérico da cabala, ninguém discute que os ensinamentos foram transmitidos oralmente ao longo de muitas gerações, até que alguém resolvesse eternizá-los na escrita.
Os primeiros escritos conhecidos com referências a esses ensinamentos datam do século I. São livretos reunidos numa coleção chamada Heichalot ("Os Palácios"), que versam sobre os passos necessários para ascender evolutivamente através de 7 palácios celestiais, com ajuda de espíritos angelicais. Mas os livros mais importantes da cabala são o Sefer Yitizirah (Livro da Criação) e o Zohar (Livro do Esplendor), ambos de origem incerta. O primeiro teria sido escrito no século 2, mas seu autor é desconhecido. No caso do Zohar, a situação é ainda mais complexa. Para alguns cabalistas, ele foi escrito pelo rabino Shimon bar Yochai, também no século 2. A maioria dos estudiosos, porém, acreditam que o Livro do Esplendor seja de autoria do escritor judeu-espanhol Moisés de León, que divulgou os manuscritos no século 13.

              Embora o Sefer Yitizirah e o Zohar concentrem em suas páginas os principais ensinamentos da cabala, é importante lembrar que a Torá é tão importante quanto eles. Isso porque, segundo a cabala, a Torá contém ensinamentos preciosos codificados dentro do texto sagrado - decifrar esses ensinamentos ocultos é, por sinal, um dos principais propósitos do misticismo judaico. Uma das maneiras de interpretar a bíblia hebraica é recorrer a códigos e números: a “guematria”, a face matemática da cabala, atribui valores numéricos a cada uma das 22 letras do alfabeto hebraico. A ordenação dessas letras no texto bíblico seria uma das maneiras que Deus teria encontrado para revelar ao homem os segredos do Universo.

               As interpretações da Torá são tão importantes que foram divididas em 4 níveis de profundidade. O 1º nível, Peshat, é aquele com que todos leitores estão acostumados, mais simples, que compreende o sentido literal do texto. O 2º, Remez, já considera os significados alegóricos da linguagem (alusões). No 3º nível, Derash, entram comparações entre trechos similares e metáforas. O último nível seria aquele que compreende o sentido secreto e misterioso da mensagem divina: Sod. Juntos, os nomes das interpretações já possuem um significado próprio. Combinando-se as primeiras letras de cada um, obtém-se a palavra PaRDeS, que significa paraíso e remete à finalidade última do esforço de interpretação. Isto é, ao finalmente compreender a mensagem que Deus colocou nos textos sagrados, o cabalista receberia de volta o conhecimento do paraíso, como se lhe fosse devolvida a chave para retornar ao Éden, do qual Adão foi expulso por desobediência. "É como uma gota retornando ao oceano, de volta à realidade divina. Não é um processo fácil", diz o rabino Leonardo Alanati, da Congregação Israelita Mineira.


Mestres e discípulos

                 Durante séculos, especialmente após a destruição do Segundo Templo em Jerusalém pelos romanos, no ano 70, a sabedoria da cabala foi cuidadosamente transmitida "por mestres iluminados somente a pequenos grupos de seus discípulos mais brilhantes e inspirados", conta Alanati. Os discípulos ideais eram homens maduros (mais de 40 anos), pais de família, de comportamento exemplar e ávidos por descobrir os segredos do Universo. Não eram muitos, portanto, aqueles que se tornavam mestres e davam continuidade à transmissão do conhecimento oral.

                   Para boa parte dos cabalistas, as restrições tinham uma razão clara: o público não estava preparado para receber esses ensinamentos. "Esse é o principal motivo para a transmissão restrita", opina Mecler. "Hoje, a evolução da ciência ajuda a compreender muitos dos ensinamentos antigos", diz. Mas o motivo de tanto segredo não era somente a escassez de discípulos ideais. Em diversas épocas, por razões diferentes, os judeus foram proibidos de professar publicamente sua fé - a perseguição aos cabalistas atingiu o clímax no século 16, durante a Inquisição espanhola. Além disso, "a cabala contém uma reinterpretação revolucionária do texto bíblico, que usa uma simbologia complexa e uma linguagem ambígua", diz Alanati. Por causa disso, em muitas ocasiões os cabalistas foram considerados hereges. Até hoje, o estudo da cabala é condenado por várias vertentes do judaísmo.

                   Entre o período final da Idade Média e o fim da Idade Moderna, houve um ressurgimento da cabala. No século 13, o Zohar foi distribuído pelo escritor espanhol Moisés de León; no século 16, os conhecimentos foram sistematizados pelo místico Moisés Cordovero, um dos sábios a se refugiar na cidade israelense de Safed; em seguida, Isaac Luria divulgou novas interpretações dos ensinamentos, que foram espalhados por vários mestres pela Europa, fazendo da cabala a teologia dominante em círculos escolásticos e no imaginário popular judaico; e, no século 18, o rabino Baal Shem Tov fundou o hassidismo, variante ortodoxa do judaísmo que ensinava uma versão mais "fácil" da cabala. De todo modo, "a essência é a mesma há 4 mil anos", diz Mecler. "O conhecimento não muda, assim como as leis da física não mudam. Muda só a forma de transmitir", diz Lemle.

                   Hoje, com o advento da internet, o conhecimento da cabala é acessível a qualquer interessado, ainda que de forma simplificada. "Estamos prontos, então a hora chegou", conclama Lemle. Nos séculos 20 e 21, foram feitas diversas traduções do Zohar para o hebraico moderno (o idioma original é o aramaico) e para o inglês (não existe uma versão completa em português). Mas o fator que mais contribuiu para a popularização da mística judaica foi a recente adesão (desde a década de 1990) de celebridades como Madonna, Mick Jagger, David Bechkam, Britney Spears e outras (veja reportagem na página 44).

                  A organização responsável pelo surgimento da cabala pop é o Kabbalah Centre, uma escola de cabala fundada em 1984 na cidade de Los Angeles. Lá, como você pôde perceber ao ler o nome dos famosos, o acesso aos ensinamentos não é restrito a judeus. "Temos alunos de várias religiões", diz Yehuda Berg, um dos coordenadores do centro americano. "Não vejo problema nisso."

                 Nem todos estudiosos aceitam a ideia de que a cabala deva ser acessível a todos. A atitude do Kabbalah Centre provocou reações indignadas de cabalistas mais tradicionais, como o iraquiano Yitzhak Kadouri, um dos mais importantes estudiosos da cabala no último século. "A cabala não é moda", disse em 2004, comentando a adesão de Madonna ao misticismo. "Ela deve ser estudada somente por judeus."

                 Controvérsias à parte, a verdade é que a cabala ganhou milhares de aspirantes de diversas religiões nos últimos anos. Mas essa não é a primeira vez que acontece esse tipo de "sincretismo". Veja a seguir como diversas crenças e religiões encontraram na cabala uma parceira de peso.

domingo, 3 de fevereiro de 2013

A Pedra Bruta


A pedra bruta é um dos vários elementos que decoram internamente uma loja maçônica. Simboliza também as "arestas" da personalidade que o maçom deve aparar ou limar, para poder se aperfeiçoar. Estas arestas são os sentimentos como o ciúme, perfídia, a vingança, os vícios, e outros mais, pecados da moral e dos bons costumes, que como maçom jurou combater. Aparando desta forma as suas arestas, o maçom está a tornar-se mais perfeito e mais polido, representado simbolicamente pela pedra cúbica.

A Pedra Bruta é uma estratégia de ensinamento utilizada no ensino de aprendizado Maçônico, que de forma muito eficaz se difunde no seio desta organização, ajudando no entendimento da alegoria e no aperfeiçoamento de muitas personalidades no mundo afora.

Esculpir a si mesmo é o trabalho de tornar-se esclarecido. A metáfora da pedra se encaixa com a constituição do Templo e que sem uma pedra trabalhada não é possível construir algo com ela.

O Templo é símbolo de algo importante de local sagrado, neste as questões humanas estão superadas, ou pouco se apresentam assim o homem é um Templo tem condições humanas é uma construção eterna e como todas as construções é preciso levantar, lapidar, sobrepor pedras, juntar pequenos pedaços para formar algo grande e depois de chegar a uma grandiosa construção é preciso adornar e isso se faz com árduo empenho, muita força e perseverança.

 A Pedra Bruta que se fala na Maçonaria portanto é um elemento pedagógico para darmos nos conta que há em nós elementos que precisam ser trabalhados, talhados, lapidados e polidos, fazendo assim que esta chegue a uma pedra cúbica que irá compor o grande mural de Deus.

A Pedra Cúbica representa um formato de um grande tijolo, que na Idade Média era muito utilizado em antigas construções pela Europa e Ocidente Médio, quando chegado a esta fase a pedra poderá ser utilizada na construção civil. Dessa metáfora espera-se inferir que um Maçom quando completa os estudos do primeiro grau estará este pronto parar se empenhar nos estudos de ciências mais complexas, já que o tijolo é somente uma pequena parte estrutural de um Templo.

Trabalhando na Pedra Bruta o Maçom superará questões de escrita, interpretação de textos, leituras em voz alta, sabendo que o Maçom não é um ser mágico ou possuidor de um cartão de crédito sem fatura, mas sim um obreiro destemido e incansável.

A importância deste primeiro passo da construção é importantíssimo, pois é a base estrutural, se algo nesta fase der errado, ou for mal trabalhado algo poderá sair mais errado ainda na estruturação do Templo. Assim como nós juntamos pessoas sem o devido preparo para fazer um projeto em conjunto, muito logo poderemos perceber que nada irá para frente. Questões básicas como o domínio da escrita e de certa racionalidade irão faltar, assim a desordem será certa.

Antes do Grau de Companheiro Maçom, haverá muito trabalho sobre a pedra, antes de empregá-la em uma construção, espera-se de um Aprendiz Maçom que tenham conhecimentos de história geral, história das civilizações, matemática geral, História Geral das Religiões e etc.

A riqueza de uma loja Maçônica será propiciar ambiente de estudos para os seus novos estudantes. Uma biblioteca com livros de História Geral, História da Matemática, entre outros. Somam-se aos livros um espaço agradável e propício a leitura, por fim, como papel de todos os mais antigos, pessoas qualificadas a ensinar os novatos.

Ao efetuarmos o convite a alguém... “Conhece-te a ti mesmo” certamente esta não lhe causará a proporcional reação do que a imagem de alguém se auto esculpindo, porém essa reação nem o simbolismo garante que os valores do neófito sejam lapidados, pois nem todos conseguem extrair valores destes e incutir em suas vidas, infelizmente alguns paramentados que mancham os verdadeiros valores desta Augustíssima Ordem Maçônica conhecem de cor e salteado todos os clichês da pedra bruta e mesmo assim continuarem agindo de forma torpe. Mesmo que todos saibam que isto acontece é necessário seguir firme em nossa caminhada Maçônica estudando as alegorias, mas principalmente fazendo uma revolução interna combatendo a ignorância de todos os tipos e cavando masmorras ao vício.